Quando Henrique Ferreira, 22, aceitou o convite de alguns amigos para fazer aulas de rugby no CADI, em Fazenda Rio Grande (PR), mal imaginava que se tornaria um atleta no futuro. Na época, ele tinha 13 anos e nunca tinha ouvido falar no esporte. Preferia jogar futebol na rua a correr e treinar com os amigos, mas aceitou o desafio. Desde então, ele se apaixonou pela modalidade e não parou mais. Começou a ir ao CADI todas às segundas-feiras para treinar, fez novas amizades e participou de campeonatos locais.Com um desempenho cada vez melhor, Henrique foi convidado por um professor do CADI para treinar no Curitiba Rugby Clube, entidade sem fins lucrativos que tem por objetivo a transformação social por meio do esporte. Ele tinha 15 anos e seus treinadores enxergaram seu potencial. Em 2017, o adolescente foi chamado para o primeiro Camp da Confederação Brasileira de Rugby, onde teve a oportunidade de treinar durante 10 dias e se aprimorar ainda mais.
“Foi muito gratificante, nunca imaginei que faria parte da seleção. A rapaziada tinha um nível maior do que o meu, no começo era difícil, não entendia muito bem as regras, mas depois comecei a evoluir e percebi que precisava começar a estudar. Voltei para Fazenda Rio Grande e, em 2018, fui chamado para outro Camp. Comecei a treinar e depois fiz meu primeiro Campeonato Sul- Americano”, conta.
A mãe, as duas irmãs e o irmão sempre apoiaram seu amor pelo esporte e, ao lado de algumas amigas da mãe, conseguiram comprar roupas e chuteiras para que ele pudesse jogar nas melhores condições possíveis. O jogador sempre atuou como pilar direito, uma posição que exige bastante resistência e força física, principalmente nos braços, costas, peitoral e pernas, pois todo impacto do scrum (método de reinício de jogada no qual os jogadores dos dois times se juntam com a cabeça abaixada e se empurram com o objetivo de ganhar a posse de bola) deve ser absorvido pelas suas pernas.
Henrique começou a jogar pela Seleção Juvenil do Curitiba e, no final de 2018, descobriu a série B do Trophy, campeonato mundial juvenil. Mudou-se para a cidade de São Paulo para participar da competição e teve contato com os atletas da seleção adulta. Em 2019, ele participou do mesmo campeonato e teve a chance de jogar como titular contra Uruguai, Hong Kong, Quênia e Japão. O destaque do atleta crescia cada vez mais e ele foi convidado para participar do Corinthians, mas não chegou a jogar no time devido à pandemia.
O time ganhou o nome de Cobras Rugby posteriormente e Henrique ingressou nele, fazendo seu primeiro jogo oficial pela Liga Profissional de Rugby do Brasil e viajando pelo Chile, Paraguai e Uruguai para jogar. Ele também foi convidado para ser base da Seleção Brasileira de Rugby, onde continua até hoje. Atualmente, Henrique mora em São Paulo e treina de segunda a sexta. Ele soma mais de 10 medalhas conquistadas em competições, além do troféu conquistado no Campeonato Sul-Americano. “Ninguém imaginava que eu ia sair de Fazenda Rio Grande, ia para São Paulo e viajaria para vários países”, ressalta.
Além de se transformar em sua profissão, o esporte ajudou no seu desenvolvimento pessoal e no relacionamento com outras pessoas:
“Desde o começo, o rugby gira em torno de cinco pilares: paixão, integridade, respeito, solidariedade e disciplina. Você tem que aprender isso para jogar, quando eu era mais novo, sempre ficava arrumando problema, bagunçava. No rugby, comecei a mudar minhas atitudes, tinha que ser um exemplo. Minha família sempre olhava para mim. Melhorei meu comportamento em casa, fiquei mais tranquilo. O rugby me tornou um ser humano melhor, a conviver com as pessoas, a ter disciplina, a ajudar o próximo, a ter paixão. Hoje, tenho um sobrinho e um primo que jogam no CADI Fazenda Rio Grande e se inspiram em mim. Isso me incentiva e sei que posso dar meu melhor”.